Brincar é muito mais do que uma simples atividade da infância. Para a Terapia Ocupacional, o brincar é uma ferramenta poderosa de desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e social — especialmente quando falamos de crianças em processo de reabilitação.
Seja para uma criança com atraso no desenvolvimento, deficiência intelectual, autismo ou dificuldades motoras e sensoriais, o brincar é o meio mais natural e eficaz de aprender, se comunicar e se expressar. E é justamente por isso que, dentro do contexto terapêutico, o brincar é levado a sério.
Durante minhas práticas com crianças, tanto na APAE quanto em atendimentos particulares, percebo que o lúdico possibilita uma conexão afetiva, fortalece vínculos e abre portas para o progresso terapêutico. Por meio de jogos, brinquedos adaptados, histórias e atividades simbólicas, conseguimos trabalhar aspectos como coordenação motora, planejamento, linguagem, atenção, interação social e regulação emocional.
Mas o que diferencia o brincar em contexto terapêutico?
Na Terapia Ocupacional, brincar não é aleatório. Cada atividade é planejada com um objetivo clínico específico. Se a criança tem dificuldade de coordenação motora fina, podemos propor jogos com pinças, blocos ou encaixes. Se precisa trabalhar a linguagem, utilizamos bonecos ou histórias para estimular a comunicação. Se há alteração no processamento sensorial, usamos brinquedos que envolvam diferentes texturas, sons ou movimentos.
Além disso, o brincar oferece um espaço seguro para experimentar, errar, tentar de novo — sem medo de julgamento. Isso é essencial para fortalecer a autoestima e a autonomia, dois pilares do desenvolvimento saudável.
Outro ponto importante é o envolvimento da família. Muitas vezes, orientamos os pais sobre como transformar momentos simples do dia a dia em oportunidades de desenvolvimento, com brincadeiras acessíveis e significativas. Um banho pode virar uma brincadeira tátil, uma ida ao mercado pode ser um treino de organização e escolhas, e uma história antes de dormir, uma chance de estimular a imaginação e o vínculo afetivo.
É também por meio do brincar que a criança se conecta com o mundo ao seu redor, desenvolve empatia, aprende a esperar, dividir e criar. Para crianças com algum tipo de limitação ou diagnóstico, essas experiências são ainda mais valiosas.
Em resumo, brincar é coisa séria. É por meio da brincadeira que promovemos reabilitação de forma leve, respeitosa e afetiva — sempre considerando a criança como protagonista do seu processo.
Na próxima coluna, vamos falar sobre o papel da Terapia Ocupacional na saúde mental infantil. Até lá!