Há um instante em todo grande show em que a multidão parece se tornar uma só pessoa. É quando o refrão explode, o chão treme sob os pés e, num reflexo quase automático, milhares de celulares se erguem para eternizar aquele momento. O que nem sempre percebemos é que, para milhões de pessoas, esse momento passa em silêncio. E o silêncio, aqui, não é poético. É uma barreira real.
No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 10 milhões de pessoas convivem com algum grau de deficiência auditiva. No mundo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que, atualmente, são mais de 430 milhões e o número deve ultrapassar 700 milhões até 2050.
Mesmo assim, a maior parte dos shows, festivais e festas ainda é pensada só para quem pode ouvir. Às vezes, há um intérprete de Libras no palco, o que é um avanço, mas não basta. A inclusão de verdade vai além das palavras: é preciso traduzir a sensação. Sempre ouvimos que a tecnologia encurta distâncias. E encurta mesmo: cidades inteiras cabem em uma tela de celular, transações são realizadas em segundos, dados viajam mais rápido que o pensamento.
Mas, quando falamos de inclusão, a tecnologia não pode parar na velocidade. Ela precisa ter empatia. Precisa traduzir o que muitos consideram garantido, como ouvir uma canção, vibrar com uma batida, sentir o impacto físico de um acorde. Precisa abrir espaço para imaginar possibilidades, e mais: garantir que as possibilidades sejam para todos.
Os avanços são contínuos, mas a tecnologia ainda falha ao deixar de incluir todas as formas de sentir. Um estudo recente da W3C (consórcio mundial da web) indica que cerca de 97% dos sites ainda possuem ao menos uma barreira de acessibilidade.
No entretenimento ao vivo, não é diferente
Foi para mudar essa realidade que foi criada a Tim Vibe, uma nova tecnologia que transforma utiliza o microfone do celular para converter som, como música, em vibrações táteis em tempo real. Durante um show, a empresa ofereceu a novidade a um grupo de jovens com deficiência auditiva.
Em vez de usar fones de ouvido, eles seguravam o celular, que captava o som do ambiente e o devolvia em pulsos vibratórios, acompanhando o ritmo da música. Um gesto tão simples como segurar o celular na mão, virou, naquele instante, a forma de estar presente no festival, de dançar, de sentir o que até então era só silêncio.
Pode parecer detalhe, mas para quem sempre ficou de fora, faz toda a diferença. É o mesmo princípio de soluções que já conhecemos, como legendas automáticas em vídeos ou legendagem ao vivo em eventos que, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), têm potencial de melhorar a experiência de mais de 1,5 bilhão de pessoas com dificuldades auditivas ou cognitivas.
Incluir não é apenas um gesto social: é também uma oportunidade que faz sentido para os negócios. A Accenture estima que consumidores com deficiência movimentam mais de 8 trilhões de dólares globalmente. Ignorar isso é abrir mão de um mercado inteiro e do impacto social que vem junto.
Para a instituição, ver jovens experimentando vibrações que acompanham a música faz pensar em tudo o que ainda se pode criar. “Nos orgulhamos dos avanços do 5G, da inteligência artificial e da conectividade total. Mas a verdadeira revolução acontece quando tudo isso toca o que é humano: sentir, pertencer, dançar junto. Steve Jobs costumava dizer que ‘tecnologia sozinha não basta, o que importa é como ela toca as pessoas’. E tocar, aqui, ganha um significado literal”.
Fonte: Exame