A infância também precisa de tempo

Quando falamos de crianças, de modo especial de crianças atípicas, é comum que suas rotinas estejam repletas de terapias, atendimentos clínicos, reforços escolares e outras atividades estruturadas. Tudo isso, sem dúvida, tem valor e contribui para o desenvolvimento dos pequenos. No entanto, gostaria que refletíssemos sobre como tem sido o tempo utilizado fora de todas estas obrigações.

Na psicologia, compreendemos que o brincar é mais do que lazer: é linguagem, é comunicação, é construção de subjetividade. É brincando que a criança elabora angústias, expressa emoções, experimenta papéis sociais, desenvolve habilidades cognitivas e aprende a lidar com frustrações.

O excesso de obrigações pode trazer efeitos silenciosos: cansaço, resistência aos atendimentos, ansiedade e até dificuldades de socialização. Afinal, ninguém consegue se desenvolver de forma saudável sem pausas, sem momentos de espontaneidade e sem experiências que tragam prazer e sentido à vida.

Cada conquista, seja motora, cognitiva ou social, é importante, mas não pode no processo ser deixado de lado a experiência de ser criança. A infância precisa ser vivida com equilíbrio, onde haja lugar tanto para a estimulação planejada quanto para a brincadeira livre e os vínculos afetivos.

Mais do que acelerar conquistas, devemos valorizar os pequenos momentos que constroem memórias: brincar no quintal, ouvir uma música juntos, inventar histórias, rir de uma piada simples. Esses instantes são tão terapêuticos quanto qualquer exercício estruturado, pois fortalecem laços, geram segurança emocional e contribuem para um desenvolvimento integral e humano.

A infância de nossas crianças merece ser plena, respeitada em seu tempo e em sua essência. Afinal, muito além de resultados clínicos ou pedagógicos, o que marcará essas vidas será a sensação de pertencimento, de afeto e de ter vivido uma infância que, de fato, foi infância.

Receba outras notícias pelo WhatsApp. Clique aqui e entre no grupo do Além da deficiência.

RECOMENDADAS PARA VOCÊ​

Rolar para cima