Quando o tempo da criança é diferente, mas o amor é o mesmo

Vivemos em um mundo que tem pressa. Um mundo que mede o desenvolvimento em tabelas, compara marcos e transforma o aprender em uma corrida silenciosa. Mas a infância não é uma disputa de chegada — é um caminho feito de descobertas, afetos e tempos únicos. E é justamente na diversidade de ritmos que o olhar pedagógico se amplia e se humaniza.

Há crianças que precisam de mais tempo para falar, andar, interagir ou compreender o mundo à sua volta. Às vezes, o que parece “demora” é apenas o corpo e a mente se organizando, encontrando seu próprio compasso. Cada conquista — por menor que pareça — representa um grande avanço e deve, sim, ser celebrada. Mas celebrar não significa acomodar.

Como pedagoga atuando na estimulação precoce, aprendi que o respeito ao tempo da criança deve caminhar lado a lado com o compromisso de intervir no momento certo. Existe um tempo de espera — aquele em que observamos, incentivamos e confiamos no processo natural. E existe também o tempo de agir — quando percebemos que determinados marcos não estão sendo alcançados e a criança precisa de suporte especializado. Reconhecer essa diferença é um gesto de amor e responsabilidade.

O trabalho com estimulação precoce é, antes de tudo, um trabalho de construção conjunta. Família e profissionais precisam andar lado a lado, compreendendo que cada avanço, por menor que pareça, nasce de um processo que envolve vínculo, persistência e escuta. Preparar as famílias para isso é essencial: o tempo de cada criança é singular, mas ele não é infinito. Há janelas de desenvolvimento que merecem ser aproveitadas com atenção e cuidado.

Na escola, na clínica ou em casa, o papel do educador é o de ponte — alguém que observa, acolhe e orienta. A escuta vem antes da correção, o acolhimento antes da exigência, mas o olhar técnico nunca se apaga. Quando compreendemos que a inclusão também exige intencionalidade e planejamento, damos à criança as condições reais para que seu tempo floresça com apoio, e não com abandono.

Porque respeitar o tempo da criança não é deixá-la sozinha em sua lentidão. É oferecer presença, estímulo e oportunidade. É garantir que cada uma possa avançar dentro do que é possível — e, quando necessário, buscar caminhos que ampliem essas possibilidades.

A inclusão verdadeira não se faz apenas com paciência, mas também com compromisso. E quando o amor se alia ao conhecimento, o tempo deixa de ser um obstáculo e se torna um aliado. Porque o tempo pode ser diferente, mas o amor — o amor é o mesmo.

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