Por Cláudia Russo,
CEO da Burnout Empresarial, palestrante e especialista em saúde mental corporativa, burnout e riscos psicossociais conforme a nova NR-01.
Nos últimos anos, muita gente começou a usar a inteligência artificial como se fosse uma espécie de terapeuta de bolso. É rápido, está sempre disponível, não julga e responde na hora. E, de fato, a IA pode ser uma ferramenta incrível de apoio emocional, especialmente para quem está se sentindo sozinho, confuso ou sem coragem de procurar uma ajuda profissional.
Mas aqui vem a parte delicada, por mais avançada que seja, a inteligência artificial não sente, não percebe as nuances, não identifica os riscos reais como um humano treinado o faria. Ela conversa bem, mas não cuida de verdade. Ela orienta, mas não acompanha como um verdadeiro terapeuta. Ela acolhe com a lógica, mas não enxerga a alma com o coração.
E isso ficou evidente em um caso recente, quando uma pessoa, em sofrimento emocional, recebeu de uma IA respostas totalmente inadequadas, inclusive incentivos perigosos, que fragilizaram ainda mais a sua saúde mental. Esse episódio acendeu um alerta no mundo inteiro, que a IA não pode substituir um psicoterapeuta, psicólogo, psiquiatra ou qualquer outra forma de cuidado profissional. E esse alerta é muito importante.
Porque quando estamos fragilizados, ansiosos, depressivos ou perdidos, precisamos de alguém que saiba reconhecer os riscos, que escute com profundidade de verdade, que entenda o contexto e que perceba o não dito. Uma máquina não faz isso. Uma máquina não vê seu olhar cair, não percebe seu silêncio, não identifica sinais de exaustão e nem é capaz de notar um tremor na sua voz. Ela apenas responde, com a lógica de um robô, i inteligente, mas ainda um robô.
O que não significa que a IA não tenha alguma utilidade na saúde mental. Tem, sim. Ela pode ajudar a organizar os seus pensamentos, sugerir reflexões, ensinar técnicas de respiração, ajudar a nomear suas emoções, lembrar você de beber água, descansar e respirar. Pode ser um suporte no dia a dia, um complemento, um ponto de apoio. Mas nunca uma terapia. Porque, por mais que a tecnologia avance, saúde mental continua sendo sobre vínculo humano. Sobre troca real, olhar atento, presença, responsabilidade profissional. Sobre alguém que sabe o que fazer quando você diz “não estou bem”. Cuidar da mente exige cuidado humano.

Fonte: Jornal Popular Catarinense







