
Quando falamos sobre inclusão, é comum pensar em adaptações complexas, em materiais específicos ou em estratégias avançadas. Mas, muitas vezes, a inclusão acontece de forma simples, no lugar onde a infância é mais verdadeira: no brincar. É dentro da brincadeira que a criança experimenta o mundo, testa possibilidades, descobre o corpo, expressa emoções e constrói vínculos. E é ali que educadores e famílias podem encontrar oportunidades reais de ensinar com sensibilidade.
Não é preciso muito: um brinquedo que cabe na mão, um objeto que faz som diferente, uma caixa transformada em esconderijo, uma corda que vira estrada. A brincadeira só precisa fazer sentido para quem brinca. É quando o adulto se dispõe a observar antes de intervir, a acompanhar antes de direcionar, que o brincar se transforma em aprendizado. O convite para participar pode surgir de um sorriso, de uma pausa, de um gesto tímido de aproximação. É nessa delicadeza que a inclusão floresce.
Em minha convivência com crianças com e sem deficiência, percebo que o brincar revela mais do que qualquer avaliação formal. A criança que antes evitava o grupo, aos poucos aceita dividir o carrinho; aquela que se frustrava com a espera, começa a aguardar sua vez de subir no escorregador; o bebê que apenas observava, arrisca um gesto imitando o colega. Essas conquistas parecem simples, mas são enormes. Elas dizem sobre participação, pertencimento, comunicação e confiança.
Brincar não é só lazer; é linguagem, é vínculo, é construção de autonomia. Na brincadeira, um gesto pode ser resposta, um olhar pode ser pedido, um sorriso pode ser conquista. Para algumas crianças, brincar exige apoio mais próximo, indicações visuais, adaptações de corpo, ritmo mais lento. Para outras, a brincadeira precisa de sons, cores, pausas ou repetições. Cada pequena mediação abre uma porta para que a criança se sinta capaz de interagir e de inventar o seu próprio jeito de brincar.
Quando educadores e famílias compreendem que a inclusão acontece na simplicidade do cotidiano, o brincar deixa de ser apenas atividade e passa a ser encontro. Um encontro que acolhe, ensina, fortalece e transforma. Porque, no fim, não é o brinquedo que inclui: é a forma como olhamos para a criança durante a brincadeira. É o respeito ao seu tempo, às suas formas de comunicar, às suas necessidades e aos seus interesses.
Incluir é permitir que toda criança brinque do seu jeito, com as possibilidades que tem, sem pressa e com espaço para experimentar. A inclusão verdadeira não está apenas nos recursos que oferecemos, mas na disponibilidade de enxergar cada gesto como aprendizado, cada tentativa como avanço e cada sorriso como uma conquista compartilhada. Brincar é um direito. E quando esse direito é garantido com afeto e intencionalidade, o brincar se torna o caminho mais bonito para aprender, participar e pertencer.







