Diagnóstico tardio

Recentemente, algumas pessoas conhecidas, uma adolescente de 14 anos e um adulto de 25, receberam o diagnóstico de autismo. Quando eles me contaram, minha reação foi semelhante em ambos os casos: admiração pelas conquistas e pela superação das dificuldades, até então enfrentadas sem diagnóstico e sem acompanhamento profissional.

A adolescente, hoje no ensino médio, sempre foi dedicada aos estudos e tirava boas notas. Sua maior dificuldade sempre esteve na interação social. Conversando comigo, dentre outras questões, deixou a entender nas entrelinhas que agora ela entendia porque ela era “a diferente.”

Já o adulto, que concluiu a faculdade e conquistou um bom emprego, escreveu em suas redes sociais: “Esse diagnóstico não mudou quem eu sou, mas apenas tirou um peso das costas de que esse sou eu e agora sei como reagir ao futuro.”  Para sua mãe, no entanto, esse diagnóstico recente foi um alívio, pois finalmente pôde compreender várias atitudes e “manias” que o acompanhavam desde a infância.

Esses dois casos me levaram a refletir: qual é a vantagem de um diagnóstico tardio? O que muda no modo de agir e pensar da pessoa? Para os familiares, muda alguma coisa?

A primeira palavra que me vem à mente é conforto ou consolo por finalmente compreender as dificuldades que antes eram vistas como falhas ou comportamentos socialmente indesejáveis. Só para citar um exemplo, lembro-me de ouvir muitas vezes a frase dirigida à nossa adolescente: “Você deve socializar mais.”

Mas acredito que outros sentimentos também possam surgir, como dúvidas, medo ou confusão. Uma indagação que provavelmente aparece nesse momento é: Será que devo contar para as pessoas que sou autista?

E quanto às mudanças no modo de agir de uma pessoa recém-diagnosticada? Não sei se existe um caminho único, mas acredito que uma boa direção seja buscar o autoconhecimento. Estudar o autismo, reconhecer sinais e sintomas, buscar apoio profissional, promover inclusão social de maneira segura e prazerosa (da forma que a faz sentir-se bem), estabelecer rotinas, desenvolver habilidades de comunicação, valorizar forças e interesses… e, acima de tudo, buscar autonomia.

O cuidado necessário nesse momento é não se “trancar na caixa”, aceitando o rótulo como justificativa para se isolar ou manter comportamentos prejudiciais. Todos enfrentamos dificuldades. Saber que essas dificuldades estão mapeadas e estudadas pode nos dar ferramentas para lidar melhor com elas.

E a família, onde fica no meio de tudo isso? Também acredito que ela vivência algo semelhante ao recém-diagnosticado: um misto de emoções, entre alívio, medo, confusão e, em alguns casos, até negação ou descrença no resultado.

No meu caso pessoal, não mudei o modo de agir com as pessoas que citei no início e pelas quais tenho um carinho muito especial. Talvez porque convivo com o autismo há bastante tempo e já desenvolvi meu olhar para além da deficiência. Quando me contaram do diagnóstico, apenas respondi: “Conte comigo sempre. Eu amo vocês!”

Contudo, é importante lembrar que, no diagnóstico tardio, a participação da família é fundamental. Acolhimento, resiliência e aceitação ajudam a pessoa a se conhecer melhor, compreender suas dificuldades, buscar adaptações e desenvolver novas possibilidades. A família deve, acima de tudo, amar, respeitar e se adaptar a essa nova realidade.

Os diagnósticos existem para trazer compreensão, orientar tratamentos e promover bem-estar e qualidade de vida. E isso só é possível com uma boa rede de apoio, hábitos saudáveis e, principalmente, muito amor.

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