Levar ou não levar, eis a questão

Temos uma festa. Fomos convidados para um evento. Tem apresentação no colégio. A mana vai dançar. E agora?

Levar ou não levar, eis a questão.

Eventos, festas, apresentações… situações cotidianas que, para muitos, representam um grande momento de alegria, entusiasmo e satisfação, para o autista e sua família, podem representar um verdadeiro desafio.

Foram muitas as tentativas frustradas de levar nossa filha autista para participar de festas e eventos. Primeiro a espera, depois o barulho, o tumulto, a confusão… tudo em torno contribuía para o desconforto. E voltávamos chateados, tristes, sentindo que aquela não era a melhor opção.

Nestas mesmas situações, nós, neurotípicos, também nos sentíamos um pouco incomodados, mas em um nível aceitável e também, sabíamos que algo melhor e mais significativo aconteceria e compensaria aquele desconforto. Só que, para ela, isso muitas vezes podia ser muito difícil de lidar.

Eu e meu esposo percebemos, depois de muitas tentativas, que alguns eventos é melhor não levarmos (para o bem dela e o nosso). Até certa idade, eu achava que estava sendo uma “mãe inclusiva” se a levasse a todas as oportunidades de socialização. Hoje percebo que, para ela, nem sempre foi agradável, e que ela preferia ficar em casa com alguém que conhecia e com quem se sentia segura.

Assim que percebemos isso, começamos a contar com nossa rede de apoio familiar para nos ajudar e ficar com ela enquanto vamos a eventos para os quais somos convidados. Avós, padrinhos, tias e tios tornaram-se verdadeiros refúgios nesses momentos. Sabemos que não são os únicos com quem podemos contar, mas há uma tia e um tio em particular com quem nossa filha ama passear e até dormir. Quando passamos muito tempo sem precisar deixá-la com eles, ela mesma pede para ir. É lindo ver como ela se sente bem e amada na casa deles. Sou muito agradecida por ter pessoas assim perto de nós.

Aprender a respeitar os limites dela foi, para mim, um grande exercício de amor. No começo, sentia culpa por recusar convites ou deixá-la em casa. Achava que estava falhando como mãe, que estava “desistindo” de tentar incluí-la, mas com o tempo percebi que incluir também é acolher o que o outro sente, e não forçar o que achamos que seria o melhor.

Hoje entendo que não participar de tudo não significa estar à parte da vida. Significa apenas escolher o que faz sentido, o que traz bem-estar e segurança. E tudo bem. Quando ela prefere ficar em casa, fica tranquila, serena. Quando quer ir, vai feliz, e é essa alegria genuína que importa.

Encontramos, assim, o nosso equilíbrio. Às vezes participamos, às vezes não. Às vezes ela vai por alguns minutos, às vezes decide ficar até o final. O importante é que cada escolha vem acompanhada de respeito, e cada momento vivido vem cheio de amor.

No fim das contas, percebi que a verdadeira inclusão começa dentro de casa, quando entendemos que cada um tem seu próprio ritmo, e que amar também é saber quando não levar. Assim, levar ou não levar já não é mais um dilema; é apenas uma das muitas decisões que tomamos com o coração. No fim, o que realmente importa é que ela se sinta bem, segura e amada, porque inclusão também é isso: respeitar o tempo, o espaço e o jeito único de cada um viver o mundo.

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