Falar de inclusão é também falar de linguagem. De que adianta planejar atividades acessíveis se a forma como apresentamos o conteúdo continua sendo uma barreira? Muitas vezes, a linguagem usada em sala de aula — complexa, abstrata, carregada de termos técnicos — distancia os educandos, em vez de aproximá-los do conhecimento. Tornar o conteúdo compreensível não é “empobrecer” o currículo, mas sim abrir caminhos para que ele chegue a todos.
Linguagem acessível é, antes de tudo, linguagem cuidadosa. É aquela que se preocupa com quem vai ouvir, ler ou interpretar. Isso envolve escolhas que respeitam a diversidade: desde o uso de frases curtas e objetivas até o apoio de imagens, recursos visuais, metáforas do cotidiano e estratégias multissensoriais.
Usar figuras, dramatizações, vídeos com Libras ou audiodescrição, mapas mentais e objetos concretos não simplifica o conteúdo — amplia suas formas de chegar até o aprendiz. Um conceito matemático pode ser introduzido com material concreto. Um texto pode ser explorado com pictogramas ou palavras-chave destacadas. Uma aula de história pode começar com uma linha do tempo ilustrada, que dê ao educando um suporte visual para organizar os fatos.
Esse tipo de abordagem não beneficia só quem tem deficiência. Crianças com dificuldades de aprendizagem, alunos que estão em processo de alfabetização ou que têm o português como segunda língua também se beneficiam de uma linguagem acessível. A comunicação inclusiva, na verdade, é boa para todos — porque ensina com clareza, escuta com atenção e respeita os diferentes modos de aprender.
O grande desafio está em desapegar da ideia de que ensinar bem é usar palavras difíceis. O conhecimento não perde profundidade quando é explicado de forma clara. Pelo contrário: ele ganha potência. A linguagem acessível valoriza o conteúdo porque o compartilha com mais pessoas, e esse é o maior objetivo da educação.
Como educadores, precisamos nos perguntar constantemente: quem está ficando para trás por não conseguir compreender o que estou dizendo? A resposta para essa pergunta nos convida a revisar nossa prática e lembrar que ensinar é mais do que transmitir — é garantir que o outro tenha condições de compreender.
Porque inclusão não se faz apenas com boas intenções, mas com comunicação que acolhe, respeita e transforma.