Neste mês de maio, dedicado às mães, quero compartilhar um olhar sensível sobre a maternidade atípica — ser mãe de uma pessoa autista. A maternidade, por si só, já é uma experiência transformadora e desafiadora. Mas, quando nossos filhos apresentam comportamentos e necessidades diferentes, essa jornada se intensifica, tornando-se um verdadeiro caminho de autoconhecimento, entrega e superação.
Quantas lágrimas e sorrisos estão por trás da rotina de uma mãe atípica? Quantas noites em claro, quantas tentativas frustradas? Mas também, quantas vitórias silenciosas e histórias cheias de amor, coragem e resiliência!
A primeira grande descoberta ocorre quando percebemos que nosso filho se comporta de maneira diferente das outras crianças — algo que, para quem tem mais de um filho, pode ser ainda mais evidente. No caso do autismo, essa diferença não é visível fisicamente. O processo de descoberta e aceitação costuma ser lento e, muitas vezes, doloroso.
Lembro com carinho do texto “Bem-vindo à Holanda”, de Emily Perl Kingsley, que li logo após o diagnóstico da minha filha. A autora compara a experiência de ter um filho com deficiência à frustração de planejar uma viagem para a Itália e, ao desembarcar, perceber que está na Holanda. Não era o que se esperava, mas também é um lugar belo, com paisagens únicas. Assim me senti: um misto de estranhamento e, depois, aceitação. Primeiro veio a desconfiança; depois, a confirmação, o diagnóstico de TEA (Transtorno do Espectro Autista) e, então, o início da jornada. Uma jornada que não precisa, e nem deve, ser solitária.
No começo, procurei em livros, vídeos, médicos, psicólogos e terapeutas alguma resposta: “Como será o futuro da minha filha? Ela vai falar? Vai andar? Comer sozinha?” Uma avalanche de sentimentos e dúvidas. Qual o grau do autismo? O que nos espera? Até que, um dia, um terapeuta me disse algo que mudou minha perspectiva: “Mais importante que o diagnóstico, é formar uma criança educada.” Hoje, eu complemento: educada, autônoma, saudável e, principalmente, feliz.
Ser mãe de uma criança autista também significa, muitas vezes, carregar uma culpa silenciosa. No início, acreditava que só eu poderia cuidar dela, entender suas necessidades, interpretar seus silêncios. Mas isso se tornou um fardo. Só quando compreendi, como escreveu Khalil Gibran, que “Vossos filhos não são vossos filhos… Vêm através de vós, mas não são de vós”, consegui dividir esse peso.
Entendi que minha filha não é só minha. Ela tem pai, irmã, avós, padrinhos, tios, professores, terapeutas… e todos podem — e devem — contribuir para seu desenvolvimento. Quando nos abrimos para essa rede de apoio, ganhamos fôlego. Dividimos os cuidados e, assim, temos espaço para sermos também mulheres: plenas, inteiras, com tempo para nos cuidar, amar e nos reconectar com quem somos. E, dessa forma, conseguimos amar nossos filhos além da deficiência. Porque, antes de qualquer diagnóstico, existe uma criança. E existe uma mãe. Uma mãe inteira. Feliz dia das Mães!