O Dia das Mães chega, mas muitas mães acabam não se reconhecendo nele. Entre as responsabilidades diárias, o ritmo acelerado e o turbilhão de emoções, é comum que suas próprias necessidades, angústias e histórias fiquem em segundo plano, sem tempo para parar e refletir sobre o que ser mãe realmente significa para elas. A maternidade, com todas as suas exigências, ocupa tanto espaço que o olhar para dentro, o acolhimento da própria trajetória, é frequentemente adiado, esquecido ou silenciado.
Nem toda mãe sonhou com o mundo que vive hoje. Algumas foram surpreendidas por um silêncio que durou mais do que o esperado. Por um olhar que não se sustentava. Por um “mamãe” que parecia demorar demais. Algumas mães aprenderam a amar no susto. Na sala de espera. No diagnóstico inesperado. Na falta de respostas prontas.
A verdade é que nenhuma delas estava pronta. Não há preparação para quando a maternidade toma outro rumo, desvia dos trilhos desenhados, e pede que se reaprenda tudo: o tempo, os planos, os sonhos. Mas, mesmo assim, elas ficam. Ficam quando o medo chega. Ficam quando o choro não tem tradução. Ficam quando a comparação fere. E é nesse “ficar” que a maternidade se reinventa.
Longe dos modelos perfeitos, nasce um amor que não espera retorno. Um amor que se senta no chão da sala e comemora um novo som. Que aprende a decifrar sinais. Que transforma a culpa em cuidado. Que torna o impossível em um passo lento, mas firme.
A maternidade é uma travessia. Um caminho marcado por amor e entrega, mas também por silêncios, cansaços e renúncias. Talvez, neste Dia das Mães, o maior presente não venha de fora, mas de dentro e nem do outro mas de si: um momento de pausa.
Uma pausa para respirar. Para escutar o que ficou guardado. Para acolher o que foi calado. Para dar nome aos lutos — mesmo àqueles invisíveis aos olhos. A infância sonhada. A mãe que se imaginava ser. Esses temas ainda ecoam fundo e merecem espaço. Nas próximas colunas, vamos mergulhar mais profundamente em cada um deles.
Como psicóloga, tenho o privilégio de acompanhar muitas famílias atípicas e de ouvir as histórias de tantas mães que, mesmo diante dos desafios, seguem firmes — mesmo quando tudo parece desmoronar. Ser mãe é, sim, um dos papéis mais belos que uma mulher pode exercer, mas também é um dos mais exigentes. Muitas vezes, a maternidade nos desconecta de quem somos, porque nosso bem mais precioso se torna o centro de tudo — nossa força, nossa entrega, nossa prioridade.
E se há um adjetivo que encontro em comum entre todas as mães que acompanho, é a resiliência — essa capacidade de continuar, de se refazer, de transformar dor em amor e medo em presença.
Deixo aqui meu profundo respeito e admiração pela força de cada uma de vocês. Que este seja um convite para olhar com gentileza para a própria trajetória. E, se em algum momento sentirem a necessidade de externalizar tudo aquilo que carregam — mesmo o que parece não ter nome ou tradução — saibam: pedir ajuda também é um gesto de amor.
Lembrem-se: para cuidar do outro, é preciso, antes, cuidar de si.