
Como já comentei em outro texto, O desafio e a beleza de ensinar, trabalho com cursos profissionalizantes para jovens entre 14 e 24 anos que ingressam no mercado de trabalho. Em uma reunião recente, fui informada de que terei dois alunos autistas nas turmas do próximo ano.
A representante da empresa que contratou os jovens relatou que a ideia, daqui para a frente, é sempre ter algum jovem autista. E acrescentou: “Precisamos saber como cada um funciona para encontrar uma função adequada”. Achei a iniciativa formidável e acredito que essa será a realidade em um futuro bem próximo. Mas, ao mesmo tempo, fiquei pensando: como fazer isso dar certo?
Primeiramente, devemos conhecer o candidato à vaga em sua singularidade; conversar com ele e com a família para entender suas qualidades e limitações. Em seguida, realizar um mapeamento dos setores onde esse jovem poderá atuar, sendo de fato útil e produtivo. Por fim, acredito que também seja necessário definir um “acompanhante” no setor, alguém que possa auxiliar o jovem autista nas suas atividades.
Recentemente, assisti a uma palestra sobre inclusão que dizia: “Nada para nós sem nós.” Acho que esse é um ótimo ponto de partida. Conversar, conhecer, analisar, entender e juntamente com a pessoa contratada, definir o que precisa ser feito para que tudo funcione: regras, limites, perdas, ganhos e todas as questões que esse jovem irá enfrentar no dia a dia de trabalho.
E, se for necessário (e possível) adaptar rotinas, procedimentos e o ambiente para facilitar a produção e o convívio. É importante que os demais colaboradores o vejam como parte integrante da equipe, produtivo e realmente contribuindo para o setor. Essa postura visa prevenir desconfortos e constrangimentos futuros.
Assim como as escolas estão se adaptando para receber esses alunos, penso que as empresas também precisarão passar por esse processo de adaptação. Não pela lei, não para “ficar bem na fita”, mas para construir empresas feitas por pessoas, respeitando suas diversidades e promovendo uma inclusão verdadeira.
A partir do momento em que descobrimos os talentos e capacidades das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), a inclusão se torna mais natural. É preciso disposição e um desejo genuíno para que funcione. E, voltando à pergunta do início do texto: Como fazer isso dar certo?
Com boa vontade, cuidado, planejamento, humanidade, respeito e um desejo sincero de fazer acontecer. Que a inclusão não exista apenas para cumprir cotas, mas para enxergar futuros profissionais além da deficiência: produtivos, capazes e contribuindo para o crescimento do cenário industrial e empresarial.







