Luto não é apenas sobre morte. Luto é sobre perdas.
É sobre despedidas silenciosas daquilo que sonhamos, idealizamos, construímos em pensamento mas que a realidade não trouxe.
É uma dor que, muitas vezes, não tem nome nem espaço para existir. E quando falamos de maternidade atípica, esse luto se torna ainda mais invisível.
Nem sempre a maternidade começa no nascimento.
Muitas vezes, ela começa no sonho.
Na imagem que se forma, quase sem perceber, do filho que um dia viria.
E ali, naquele espaço silencioso entre o desejo e a realidade, nasce um amor e, também uma expectativa.
Entre o entrelaçar da nova vida, um diagnóstico. E com ele, vem a ruptura.
Não do amor mas daquilo que foi sonhado.
É comum que nesse momento surja a confusão emocional:
“O que estou sentindo?”
“Por que me sinto tão triste se amo tanto meu filho?”
“Será que tenho o direito de me sentir assim?”
Sim. Você tem. Esse luto simbólico — pelo filho ideal que não chegou, é legítimo! E, na maioria das vezes, ele nos atravessa sem que a gente perceba o quanto machuca. Não sabemos nomeá-lo, apenas sentimos constantemente um aperto, uma culpa, uma tristeza silenciosa que insiste em ficar.
E negá-lo não faz com que ele desapareça.
Apenas adia o processo de cura.
Porque amar alguém não significa abrir mão de si mesma.
E cuidar de um filho também é, antes, cuidar das próprias dores.
Muitas mães seguem em silêncio, acreditando que ser forte é seguir em frente sem chorar, sem questionar, sem demonstrar.
Mas há uma força profunda e muito mais humana, em quem se permite sentir.
Em quem acolhe o próprio vazio, olha para ele com coragem e entende que até a dor precisa de espaço para existir e ser cuidada.
Trabalhar esse luto é necessário.
Não para esquecer o que foi sonhado, mas para abrir espaço ao que é real.
Para enxergar esse filho que está diante de você com suas singularidades, suas outras formas de ser, de sentir, de se comunicar.
Para amá-lo não a partir da expectativa, mas a partir da presença.
Para construir um vínculo que não nega a dor, mas que a transforma.
Nas próximas semanas, vamos adentrar em como atravessar esse luto simbólico com acolhimento e presença.
Porque só quando reconhecemos e cuidamos daquilo que nos faltou… é que conseguimos amar o que chegou — de forma inteira, verdadeira, e profundamente humana.
Boa semana!