Parceiros na Jornada

No dia 15 de outubro comemora-se o Dia do Professor e, por essa razão, neste mês de outubro dedico meus textos a esses personagens tão importantes na formação e no desenvolvimento dos nossos autistas.

Nesses mais de dez anos de vida escolar da minha filha, os professores, ou melhor, as professoras foram, e continuam sendo, minhas verdadeiras parceiras. Desde as primeiras suspeitas, elas sempre tiveram um olhar de cuidado, empatia e carinho com a minha pequena.

Como mãe, sempre mantive o diálogo aberto, trocando ideias e buscando, junto com elas, maneiras de lidar com cada fase, cada dificuldade e cada nova necessidade que surgia ao longo do tempo.

Nas séries iniciais, as professoras exerciam um papel quase maternal, especialmente as auxiliares de turma, com quem minha filha passava a maior parte do tempo. Eram elas que trocavam fraldas, ajudavam no lanche, ofereciam um colinho. Todo esse cuidado fez com que minha filha se sentisse acolhida e gostasse de ir à escola.

Agradeço imensamente às primeiras auxiliares (ainda lembro o nome e o rosto de cada uma) que, com tanto carinho e atenção, fizeram minha filha amar a escola. Claro que também havia outros atrativos: o parque, os brinquedos e as músicas. Lembro que, no Maternal II, a principal queixa da professora era que ela fugia para o parque!

Hoje, no nono ano do Ensino Fundamental, seus momentos preferidos são: o recreio e a aula de informática.

Ela concluiu a Educação Infantil em uma escola particular e, a partir do 1º ano do Fundamental, optamos por matriculá-la em uma escola pública, pois, por lei, essas instituições deveriam disponibilizar um segundo professor para acompanhar o aluno com autismo. Infelizmente, na época, a escola particular em que ela estudava não atendia a essa exigência.

A Lei Federal nº 12.764/2012 (Lei Berenice Piana) garante, desde 27 de dezembro de 2012, o direito a um acompanhante especializado, se houver comprovada necessidade, para o aluno com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no ensino regular.

Desde então, nossa filha passou a contar com uma segunda professora que a acompanhava lado a lado. Até hoje, vejo o quanto esse profissional é essencial na sala de aula: orienta o aluno, dá suporte ao professor regente, adapta materiais e contribui para que o estudante se desenvolva com autonomia, incentivo, segurança e respeito às suas limitações.

Nesse aspecto, tiro meu chapéu para o ensino estadual catarinense. Desde que minha filha ingressou na rede estadual, ela sempre teve um segundo professor formado, especializado e preparado para atendê-la de acordo com suas necessidades. Isso aconteceu desde o 5º ano do Fundamental.  Antes disso, do 2º ao 4º ano, ela estudou em uma escola municipal e, pelo menos no município onde moramos, o segundo professor era um estagiário, geralmente aluno do ensino médio ou da faculdade, sem treinamento específico para lidar com um aluno autista. Nesses casos, o papel era mais de cuidador, aplicando as atividades da professora regente.

Nestes dois últimos anos, minha filha teve a sorte de ser acompanhada pela mesma segunda professora, e seu desempenho, tanto no aprendizado quanto no comportamento, foi extraordinário. Tive o privilégio de conhecer uma educadora sensível, qualificada e com a empatia necessária para compreender e acolher uma pessoa autista.

Ensinar uma pessoa com deficiência não é uma tarefa simples. É preciso algo além da técnica: sensibilidade e disposição para adaptar o olhar e o modo de ensinar. Percebo que alguns professores têm essa habilidade de forma natural. Eles conseguem ultrapassar barreiras, compreender o contexto em que o aluno está inserido e oferecer algo que realmente faça diferença em sua vida.

E é justamente aí que está a beleza do trabalho docente: quando o ensino ultrapassa o conteúdo e alcança o ser humano. Acredito que mais do que ensinar matérias, os professores que passam pela vida da minha filha ajudam a construir caminhos de confiança, respeito e autonomia. São profissionais que fazem diferença não apenas pela formação, mas pela disposição em compreender, adaptar e acreditar no potencial de cada aluno. Reconhecer esse trabalho é também reconhecer que a inclusão só acontece de fato quando o olhar do educador se soma ao da família. Para todos os professores, meus Parceiros na Jornada, meu sincero reconhecimento e profundo agradecimento.  Feliz Dia do Professor!

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