O ano de 2015 foi marcante na minha vida, pois foi quando me envolvi, me dediquei e me encantei com o universo do autismo. Participei de palestras voltadas ao tema, conheci mães de autistas, entrei em grupos para troca de experiências, fizemos passeios com nossas crianças, ríamos e chorávamos juntas. Também estudei, aprendi e apliquei muitas técnicas para intensificar as terapias das quais minha filha participava.
Nas sessões semanais, ou eu participava diretamente ou perguntava ao terapeuta o que poderia fazer em casa para dar continuidade ao que havia sido trabalhado naquela semana. Levava isso como uma tarefa, e, nos dias até a próxima sessão, repetia as técnicas e brincadeiras propostas.
Sim, brincadeiras! Foi brincando com minha filha que estimulei o contato visual, ajudei no desenvolvimento da fala, dos sentimentos, da comunicação, além de promover os aprendizados cognitivos típicos da faixa etária em que ela se encontrava (entre 4 e 5 anos).
No início do ano, tracei, junto com os terapeutas que nos acompanhavam, um objetivo principal: deixá-la pronta para a alfabetização. Ela precisava estar no primeiro ano do ensino regular com o máximo de autonomia possível para aprender a ler. Paralelamente a esse objetivo maior, havia outras metas, como o desfralde (que foi um capítulo à parte e que contarei em outra ocasião).
De fato, mergulhei nas terapias e dei o meu melhor para ajudar aquela pessoinha linda a encontrar seu lugar no mundo. Ao final do ano, ela havia participado de diversas atividades como natação, balé, atletismo, ginástica artística; além das sessões com fonoaudiólogo, psicólogo, pedagogo e musicoterapeuta. Foi uma verdadeira terapia intensiva!
Todavia, você deve estar se perguntando: os objetivos foram atingidos? A resposta é: Parcialmente, sim. O desfralde foi completo (com alguns deslizes, mas satisfatório). O contato visual evoluiu pouco, pois era, e ainda é, muito difícil para ela. Nas questões cognitivas, tivemos sucesso absoluto: ela era (e continua sendo) muito inteligente, e quando se interessa por algo, aprende com rapidez.
Agora, quanto à comunicação e ao desenvolvimento da fala… essa foi a parte mais difícil. Só aos 7 anos de idade foi que conseguimos, de fato, fazê-la interagir, responder e falar conosco. Ela cantava o dia inteiro e falava sozinha, mas não respondia a uma simples pergunta nem dizia o que queria. Ensinamos a apontar o que desejava, mas ela preferia pegar pela mão e levar até o objeto de interesse.
Para o ano seguinte, sabíamos que a comunicação oral continuaria sendo o maior desafio, embora não fosse o único. O crescimento trazia novas exigências como a ampliação do vocabulário, o entendimento de regras sociais, entre tantas outras pequenas grandes conquistas que surgiriam pelo caminho. As terapias continuaram fazendo parte essencial da rotina, agora com metas mais específicas e voltadas ao desenvolvimento da autonomia e à linguagem funcional.
A cada nova fase, novas estratégias. E, mais uma vez, lá estava eu, aprendendo, testando, errando, ajustando e seguindo em frente ao lado da minha filha. E assim seguimos: vivendo um dia de cada vez, aproveitando cada oportunidade para aprender e crescer mais.