Vozes das crianças: o que as crianças com deficiência querem nos dizer?

Por muito tempo, falamos sobre as crianças com deficiência. Falamos de seus direitos, suas necessidades, suas dificuldades e suas conquistas. Mas será que temos, de fato, ouvido suas vozes? Será que temos criado espaços reais para que elas nos contem, com seus próprios meios, quem são, o que sentem, o que desejam?

A escuta ativa e respeitosa das crianças é uma base fundamental de qualquer prática pedagógica comprometida com a inclusão. Mas quando se trata de crianças com deficiência, essa escuta precisa ser ainda mais atenta, sensível e desafiadora, pois muitas vezes a comunicação não acontece da forma tradicional.

Nem toda voz é falada — algumas são construídas por meio de gestos, olhares, expressões faciais, dispositivos de comunicação alternativa, desenhos, escolhas simples no cotidiano. Toda forma de expressão é legítima quando se respeita o tempo, o corpo e a linguagem de cada criança.

O que elas querem nos dizer? As crianças com deficiência nos dizem — todos os dias — que têm vontades, sentimentos, sonhos, e também limites, como qualquer outra criança. Dizem que querem brincar com liberdade, aprender com sentido, ser respeitadas em sua forma única de estar no mundo.

Nos mostram que o problema não está em suas deficiências, mas sim nas barreiras que impomos: o brinquedo que não foi adaptado, a atividade que não considerou sua forma de participar, a escola que não flexibilizou o currículo, o adulto que não teve paciência para escutar.

Dizem que querem ser chamadas pelo nome, não pelo diagnóstico. Que não querem apenas ser incluídas fisicamente, mas pertencer verdadeiramente.

Como promover essa escuta? Escutar as crianças com deficiência exige mais do que ouvidos — exige presença, disponibilidade, curiosidade genuína e abertura para o novo. Significa observar com atenção, validar o que sentem, ajustar a linguagem, usar recursos visuais, respeitar silêncios, celebrar pequenos avanços.

Na prática pedagógica, podemos:

  • Criar rodas de conversa acessíveis, com apoio visual e tempo ampliado para participação;
  • Usar materiais táteis, sensoriais ou pictográficos que ajudem na expressão;
  • Oferecer escolhas reais no dia a dia (entre duas atividades, entre dois brinquedos, entre locais da sala);
  • Registrar e interpretar sinais não verbais com cuidado e empatia;
  • Valorizar cada forma de comunicação, mesmo que não esteja no “padrão”.

Escutar é reconhecer humanidade

Quando escutamos de verdade uma criança com deficiência, estamos dizendo: “Você importa. Você tem o que dizer. E eu estou aqui para te ouvir.” Esse gesto simples transforma relações, amplia horizontes e constrói uma sociedade mais justa.

As vozes das crianças com deficiência ecoam mesmo no silêncio — e cabe a nós, adultos, ampliar esses ecos, não abafá-los.

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