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Diagnosticada com síndrome de Down aos 35 anos, idosa é dona de casa e avó

A dona de casa cresceu e viveu boa parte da vida sem o diagnóstico. Ela conta que isso aconteceu provavelmente por viver na zona rural de Morrinhos, no interior de Goiás, e ser a caçula de 19 filhos

Morrinhos - GO, 12/01/2025 16h00 | Por: Redação | Fonte: CNN
Izabel com o marido, filhos e netos. - Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução/Agência Einstein

Foi totalmente ao acaso, durante uma consulta com um médico especialista em reprodução, que a dona de casa Izabel Rodrigues Monteiro da Silva, hoje com 70 anos, foi surpreendida com o diagnóstico de síndrome de Down. Na época, ela tinha 35 anos e estava casada há oito anos.

Queria muito ser mãe e, diante da dificuldade de conseguir engravidar, com a ajuda de um dos irmãos procurou um especialista para investigar sua possível infertilidade, sem nunca ter suspeitado da alteração genética causada por uma divisão celular atípica, que resulta na trissomia do cromossomo 21.

Ao ser avaliada, Izabel ouviu do médico que não poderia ser mãe porque tinha “mongolismo” – um termo pejorativo usado há muitos anos para falar sobre alguém com síndrome de Down.

De fato, há poucos registros de casos de mulheres com Down que se tornam mães (a diminuição da fertilidade é uma das consequências da síndrome, principalmente em relação aos homens), mas Izabel contrariou as evidências científicas e, menos de um ano depois da consulta, se tornou mãe de Cristinna, uma menina sem Down, e hoje é avó de três crianças.

A dona de casa cresceu e viveu boa parte da vida sem o diagnóstico. Ela conta que isso aconteceu provavelmente por viver na zona rural de Morrinhos, no interior de Goiás, e ser a caçula de 19 filhos.

“Ela morava na roça e era a caçula de uma família gigantesca. As dificuldades comuns em pessoas com a síndrome, como dificuldade para começar a andar ou a falar, eram atribuídas ao fato de ela ser a criança mais nova e ser muito mimada. Diziam que ela demorou a andar porque toda hora estava no colo de alguém. Demorou a falar porque alguém sempre respondia por ela”, conta a administradora de empresas Cristinna Maria Cândida da Silva, 33 anos, filha de Izabel.

Segundo Cristinna, outras características comuns em crianças com a síndrome, como rosto mais arredondado, olhos mais puxadinhos, mãos pequenas e deficiência intelectual, nunca foram notadas pelos familiares e passaram despercebidas, justamente porque eram pessoas muito simples.

“Eles viviam na roça, praticamente sem acesso à saúde. Minha mãe é baixinha, então as mãos dela eram pequenas e nunca chamaram a atenção. Ela chegou a frequentar aulas do grupo escolar rural, mas, como não conseguia acompanhar a turma, parou de estudar. Minha avó ensinou minha mãe a se tornar uma boa dona de casa. Hoje ela conhece as vogais e sabe escrever o meu nome e o dela”, conta a filha.

Como nunca desconfiou ter síndrome de Down, Izabel cresceu dentro daquela comunidade rural, recebendo os estímulos caseiros.

“Quando ela não conseguia fazer alguma coisa, minha avó insistia e ensinava até ela aprender”, conta a filha da dona de casa. À medida que foi ficando mais velha, a deficiência intelectual passou a ficar mais evidente. “As pessoas começaram a perceber que ela era diferente e começaram os comentários de que ela não era muito certa da cabeça. Às vezes, ela sai um pouco do ar, não se expressa de forma muito clara, mas nada disso a impediu de construir uma família”, diz Cristinna.

A filha conta que Izabel teve outros relacionamentos, mas se apaixonou mesmo pelo seu José, que por acaso também é parte daquela família gigante (ele é primo de Izabel). Os dois se casaram quando ela tinha 26 anos e logo se mudaram para a cidade – ele foi trabalhar na prefeitura e ela ficou cuidando da casa. O diagnóstico de síndrome de Down veio oito anos depois, confirmado pelo exame clínico e alguns anos depois pelo exame de cariótipo (um exame que avalia os cromossomos das pessoas).

Apesar de a dona de casa não ter tido a oportunidade de estudar e se inserir no mercado de trabalho, ela se tornou uma mulher independente, que cuidou da casa, da filha e dos netos. Cristinna conta que a maior barreira que a mãe enfrenta é o descrédito em relação ao que ela é capaz de fazer e a curiosidade das pessoas em torno dela.

“Quem cuida da casa dela? Ela. Quem cuidou de mim? Ela. Quem me ajuda a cuidar dos meus filhos? Ela. Não estou romantizando a síndrome de Down. Minha mãe tem problemas e comorbidades. Mas, antes de ela ter Down, ela é uma pessoa que também precisa ser amada, compreendida e respeitada. Na minha opinião, a chave da independência dela é nunca ninguém ter dito que ela não poderia fazer alguma coisa”, diz Cristinna. Afinal, quantos estereótipos foram quebrados com a história de vida de Izabel?

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