A informação é fundamental na vida de qualquer pessoa, porém, para as pessoas que enfrentam dificuldades como as deficiências, algumas questões vão além. Quando se fala em deficiência muitos associam apenas as questões ligadas à mobilidade ou intelectualidade. Agregar conhecimento e preparo para as situações do cotidiano pode ser fundamental para a vivência.
Por isso, no Portal Além da deficiência, nossa busca é constante em buscar profissionais para abordar questões com empatia e vivência. Nesta segunda-feira (12), duas novas colunistas e profissionais da saúde passarão a contribuir com informações e experiências que vão muito Além da Deficiência.
Bianca Mello Najar, de Laguna, é Terapeuta Ocupacional (T.O.) com formação sólida e ampla experiência em reabilitação neurológica, física e visual. Pós-graduada em Terapia Intensiva com ênfase em oncologia e infecção hospitalar, atua atualmente na Apae de Laguna, com foco no atendimento de crianças com autismo e síndrome Down, promovendo inclusão e desenvolvimento funcional.
Ao longo da carreira, desenvolveu qualificação em técnicas como ABA, integração sensorial e reabilitação cognitiva, consolidando sua atuação nas áreas de saúde infantil e reabilitação global. Além disso, atua no Centro de Terapias Integradas e Intensivas Ecosonhos.
De acordo com Bianca, os temas abordados serão de questões relacionadas à terapia ocupacional no cotidiano da pessoa com deficiência. Dessa forma, a contribuição ocorrerá pela melhor clareza sobre a atuação, proporcionando melhora no desempenho funcional no cotidiano.
Principalmente porque a terapia vai além. “Tem que ter a extensão em casa. É transformador quando se vê os familiares engajados para a melhora no desempenho do seu filho ou parente. Como não existe uma receita de bolo, o plano de tratamento é único para cada criança. Dependendo de suas necessidades”, detalha.
Um exemplo do cotidiano é quando uma mãe busca auxílio por conta do filho se desregular com som alto dentro de casa. “Como T.O., a orientação é de que se adapte um fone de ouvido (abafador de sons e ruídos)”, explica.
Bianca conta que em outro caso é quando ocorre agitação e excesso de gritos. “ Procure adaptar a casa com luzes e músicas relaxantes, colete sensorial , ajuda muita para acomodação da a criança. Se seu filho tem dificuldade de concentração, procure brincar de imitar com ele, sentados frente a frente. São alguns estímulos que ajudam a criança ter foco”, orienta a T.O.

Além de questões funcionais, o emocional de familiares e mesmo da pessoa com deficiência podem ficar abalados por diversos fatores. Neste sentido entra o “suporte” que uma profissional de psicologia pode oferecer.
Para abordar este tema Nicole Cunha Schotten falará da psicologia e os caminhos da inclusão. Sobre escutar para além do diagnóstico. Ela é psicóloga e pós-graduanda em Neuropsicologia, com sólida experiência no atendimento a crianças neuroatípicas e com deficiências no contexto educacional. Além de grande experiência em atendimento clínico na Apae de Tubarão, a partir do mês de Junho, iniciará sua atuação em consultório clínico, com foco no público infanto-juvenil.
Para ela falar sobre deficiência sob o olhar da psicologia é, antes de tudo, um convite à escuta. Uma escuta que vai além dos sintomas, dos laudos ou das classificações diagnósticas. É olhar para o sujeito em sua singularidade, nas suas formas de estar no mundo, nas suas expressões, angústias, desejos e possibilidades.
“No dia a dia do trabalho com pessoas com deficiência, especialmente em contextos educacionais e clínicos, é comum que a subjetividade seja deixada de lado em nome de rótulos ou metas de desenvolvimento. No entanto, a psicologia tem a função ética de relembrar que cada pessoa é mais do que o seu diagnóstico”, pontua.
Ela explica que quando uma família recebe o diagnóstico de deficiência de um filho, por exemplo, não apenas uma informação técnica é entregue — mas também um impacto emocional profundo.
“É comum surgirem sentimentos de culpa, medo, frustração ou luto pelo filho idealizado. Nesse momento, a psicologia pode e deve oferecer um espaço seguro de acolhimento, escuta e ressignificação. Não se trata de negar a realidade da deficiência, mas de ajudar a construir um novo olhar sobre ela: um olhar que reconhece as dificuldades, mas que também abre espaço para vínculos, descobertas, afetos e desenvolvimento”, avalia Nicole.
Além disso, a psicóloga explica que esta área também tem um papel fundamental na mediação das relações sociais. Muitas pessoas com deficiência enfrentam isolamento, exclusão ou dificuldades de se expressar emocionalmente, não somente por conta da sua condição em si, mas pelas barreiras sociais e atitudinais que encontram.
“São essas barreiras, muitas vezes invisíveis, que mais ferem: o capacitismo, o preconceito, a infantilização ou a superproteção. Falar sobre deficiência na perspectiva psicológica é, portanto, também falar sobre direitos humanos, sobre pertencimento e sobre a necessidade de promover ambientes seguros, respeitosos e estimulantes”, pontua Nicole.
Em sua coluna, Nicole prete abordar temas que atravessam a psicologia e a deficiência: o impacto emocional do diagnóstico, o papel da família, a importância dos vínculos, os desafios comportamentais, a construção da identidade, entre tantos outros. “Não com a intenção de oferecer fórmulas prontas, mas de provocar reflexões, compartilhar vivências e contribuir para a construção de uma sociedade mais sensível e inclusiva”, explica.
“Afinal, a deficiência não está só no corpo ou na mente — muitas vezes, ela está no olhar do outro. E a psicologia, com sua escuta atenta e ética, pode ser um caminho potente para transformar esse olhar”, afirma a psicóloga.