Deficiência não desautoriza o prazer; Respeito autoriza a liberdade

Por Sibéle Cristina Garcia

Tem verdades que a gente precisa repetir até que elas deixem de surpreender.
Até que se tornem óbvias.
Até que parem de chocar e comecem a habitar naturalmente as conversas, os olhares, os espaços.

Deficiência não desautoriza o prazer.

Mas, durante muito tempo, foi isso que tentaram ensinar.
Que o corpo que não anda, que não enxerga, que não escuta ou que se move de outro jeito… seria um corpo que não sente.
Que não deseja.
Que não se excita.
Que não sonha com o toque, com o arrepio, com o encontro.

Quiseram reduzir a existência de tanta gente à ausência.
Ausência de capacidade.
Ausência de autonomia.
Ausência de sexualidade.

Mas quem sente na pele — ou na alma — sabe:
O prazer não se mede por centímetros de mobilidade.
Nem por diagnósticos.
Nem por laudos.
O prazer mora onde mora a vida:
Na vontade de se conectar.
Na liberdade de se entregar.
Na alegria de ser aceito(a) como se é.

Deficiência não apaga o direito de desejar.
Nem o direito de ser desejado(a).
Nem o direito de experimentar o corpo, o afeto, a intimidade.

O que desautoriza o prazer, na verdade, não é a deficiência.
É o preconceito.
É a infantilização.
É o olhar que desumaniza.
É a ideia de que alguém só é sexualmente válido se o corpo estiver dentro de um molde estreito e inalcançável.

E o que autoriza a liberdade?
Respeito.

Respeito que escuta antes de julgar.
Respeito que pergunta antes de supor.
Respeito que não coloca limites onde a vida está pedindo expansão.

Respeito que entende que cada corpo é único — e que cada jeito de sentir prazer também é.

Respeito que aceita a conversa sobre desejo como parte da conversa sobre direitos.
Porque o direito de amar, de tocar, de ser tocado, de se sentir bonito(a), de viver o prazer — é um direito tão humano quanto qualquer outro.

Que a gente não precise mais dizer que pessoas com deficiência também amam, também desejam, também têm o direito de viver sua sexualidade.
Que isso vire parte da vida, da rotina, do óbvio.

Que a nossa sociedade aprenda, de uma vez por todas, a trocar o preconceito pela escuta.
O julgamento pelo afeto.
A ignorância pelo respeito.

Porque deficiência não desautoriza o prazer.
E respeito, ah… respeito autoriza a liberdade de ser inteiro(a)

Receba outras notícias pelo WhatsApp. Clique aqui e entre no grupo do Além da deficiência.

RECOMENDADAS PARA VOCÊ​

Rolar para cima