Receber um diagnóstico já é, por si só, um momento emocionalmente intenso. Mas, além da carga emocional, muitas famílias se deparam com um novo idioma: um universo de siglas que aparecem em relatórios, laudos médicos e reuniões escolares. Quem convive com o universo da deficiência e do desenvolvimento infantil certamente já se deparou com uma verdadeira “sopa de letrinhas”: TDAH, TEA, TOC, TAG… À primeira vista, essas siglas podem parecer confusas ou até assustadoras. Por isso, nesta coluna, trago um guia simples e objetivo para ajudar você a compreender o que cada uma significa — e, principalmente, o que elas não dizem por completo.
TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade: É um transtorno que afeta a atenção, o controle dos impulsos e, em alguns casos, a hiperatividade. Isso não significa que a criança é “malcriada” ou “preguiçosa”, mas que seu cérebro funciona de um jeito diferente, e ela pode precisar de mais apoio para organizar ideias e concluir tarefas.
TEA – Transtorno do Espectro Autista: Envolve desafios na comunicação social, comportamentos repetitivos e interesses específicos. Cada pessoa com TEA é única — algumas têm fala fluente, outras não falam; algumas precisam de suporte intenso, outras são mais independentes. O espectro é amplo, e o diagnóstico não define limites, mas caminhos possíveis.
TOC – Transtorno Obsessivo-Compulsivo: Crianças com TOC podem ter pensamentos que causam ansiedade (obsessões) e sentir necessidade de realizar ações repetitivas (compulsões) para aliviar esse desconforto. Não é “mania”, é sofrimento, e merece escuta e acolhimento.
TAG – Transtorno de Ansiedade Generalizada: Essa sigla representa uma preocupação constante, mesmo sem motivos aparentes. Muitas vezes, as crianças com TAG sofrem caladas, e escutar suas angústias com empatia pode fazer toda a diferença.
TOD – Transtorno Opositivo-Desafiador: Crianças com TOD têm dificuldade em lidar com regras e limites. Isso não significa falta de educação ou amor em casa — é um desafio de regulação emocional e comportamento, que precisa de compreensão, não julgamento.
TPAC – Transtorno do Processamento Auditivo Central: Mesmo ouvindo bem, a criança pode ter dificuldade para interpretar o que escuta. Isso afeta o aprendizado, a compreensão e até a convivência social. Nem sempre é visível, mas é real.
PC – Paralisia Cerebral: Condição neurológica que afeta os movimentos, a postura e, em alguns casos, outras áreas do desenvolvimento. Cada caso é único. Ter paralisia cerebral não impede a inteligência, nem o afeto, nem a alegria de viver.
TDL – Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem: Aqui, a fala demora mais a se desenvolver, ou surge com dificuldades. O que a criança precisa é de paciência, estímulo e amor.
TPS – Transtorno do Processamento Sensorial: Algumas crianças reagem de forma intensa a sons, luzes, cheiros ou texturas. Outras, parecem “não notar” esses estímulos. Isso não é frescura, é neurologia — e pode ser trabalhado com muito afeto e intervenções adequadas.
DI – Deficiência Intelectual: Algumas crianças aprendem em um ritmo diferente, precisam de mais tempo para compreender e realizar certas atividades do dia a dia. Isso não é preguiça, nem falta de capacidade — é neurologia. A Deficiência Intelectual envolve desafios no raciocínio, na linguagem e nas habilidades sociais, mas com afeto, estímulo e respeito, essas crianças podem se desenvolver e surpreender. O que faz a diferença é o olhar de quem acredita nelas.
Siglas não definem essência
Essas letras não definem a criança. Elas nos ajudam a entender como ela vê o mundo, como sente, como aprende. Acolher um diagnóstico é o início de uma nova forma de enxergar — não de limitar, mas de compreender e apoiar.
Famílias que recebem essas siglas muitas vezes passam por um turbilhão emocional. A sensação de luto por uma expectativa, o medo do futuro, o cansaço das terapias e das comparações. Mas também há descobertas, conquistas, superações e um amor que se fortalece a cada passo.
Se você é mãe, pai, cuidador ou cuidadora, saiba: não é preciso saber o significado de todas as siglas para amar e cuidar bem do seu filho. Mas entender o que elas representam pode te dar mais ferramentas para acolhê-lo com consciência, buscar apoio e trilhar esse caminho com menos culpa e mais coragem.