Que seja leve

Recentemente, participei de uma campanha de Dia das Mães na empresa onde trabalho. A proposta era simples e bonita: mães compartilhavam fotos com seus filhos acompanhadas de uma palavra que representasse o que é ser mãe. Algo me chamou atenção — a quantidade de vezes que a palavra “entrega” apareceu.

De fato, ser mãe é uma verdadeira entrega. Desde a concepção, entregamos nosso corpo para gerar uma vida. Quando nasce, entregamos tempo, dedicação, noites mal dormidas, nosso melhor, para aquele serzinho que chegou ao mundo.

Mas fico pensando: e quando essa entrega é em excesso? Quando ela ultrapassa o cuidado e passa a ser uma cobrança? A frase “fiz tanto por você” costuma vir carregada de frustração e expectativa. Até que ponto essa entrega é realmente altruísta? Será que queremos, de fato, o bem do outro — ou estamos projetando nossos sonhos e desejos não realizados?

Vejo muitos pais tentando viver através dos filhos. Escolhem suas profissões, traçam seus caminhos, tentam concretizar aquilo que não conseguiram em suas próprias vidas. Já presenciei também mães que tentam provar a todo custo que são perfeitas, que fizeram de tudo, como se buscassem uma validação constante.

Mas será que existe um jeito certo de ser mãe?

O instinto materno nos leva, sim, à entrega. É natural, é biológico. No entanto, essa entrega precisa ser equilibrada devendo nutrir e não anular. Como disse o Papa Francisco: “É necessário abrir-se ao outro como ele é, e não como queremos que ele seja”.

Ser mãe de uma pessoa autista é viver uma entrega profunda, feita de amor incondicional, dedicação diária e aceitação plena do filho como ele é. É abrir mão de expectativas, adaptar-se às suas necessidades únicas e lutar por seus direitos com coragem e sensibilidade. Essa entrega é ativa; ela acolhe, ensina, aprende e transforma, sendo ao mesmo tempo um gesto de força e de ternura.

Se exercermos a maternidade com discernimento, respeito, presença e aceitação, seremos fonte de apoio, formação e desenvolvimento para nossos filhos. Mesmo diante dos desafios, isso não será um fardo, pois o que sustenta essa caminhada é o amor genuíno, que não pesa, não cobra, apenas acompanha com firmeza e afeto. Que seja leve: esse é o desejo que impulsiona a jornada da maternidade, para que ela seja, para todos os envolvidos, a mais verdadeira e humana possível.

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